sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Osvaldo Molles

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Osvaldo Molles (Santos, SP, 1913 - São Paulo, SP, 14/05/1967) aos 16 anos de idade iniciou sua carreira no jornalismo, trabalhando na redação do Diário Nacional e, em seguida, no São Paulo Jornal e no Correio Paulistano.

Viajou pelo interior do Brasil escrevendo reportagens sobre os nordestinos. Fixou residência em Salvador (BA), ocasião em que se juntou ao grupo fundador de O Estado da Bahia.

De volta a São Paulo, participou do lançamento da Rádio Tupi, iniciando sua carreira de grande sucesso na radiofonia nacional, que continuou crescente nas rádios Bandeirantes e Record.

Entre suas produções, podemos citar: História das Malocas, O crime não compensa e a História da literatura brasileira, levada ao ar durante dois anos consecutivos e que contou com a colaboração de Oswald de Andrade e Sérgio Milliet, dentre outros.

Como compositor fez, em parceria com Adoniran Barbosa e João B. dos Santos, o samba Conselho de mulher (1953); Tiro ao álvaro, com Adoniran; e em 1968 torna-se sucesso o samba Mulher, patrão e cachaça, feito também com Adoniran.

Inspirado em Saudosa Maloca, samba de Adoniran lançado pelos Demônios da Garoa em maio de 1955, Molles criou, na Rádio Record, o programa História das Malocas, onde Adoniran figurava como Charutinho, um negrinho malandro e boêmio, com sotaque italianizado dos paulistanos.

Gostava dos fraseados errados do companheiro, considerando-os a expressão do autêntico modo de falar do povo. E foi com a pretensão de aprofundar esse mergulho no espírito popular que Molles produziu esse programa. Sucesso absoluto, História das Malocas ficou no ar durante dez anos, de 1955 a 1965, chegando até a ser levado para a televisão.

Acompanhava de perto e incentivava todo o processo de criação de Adoniran Barbosa. Era ele quem enviava Adoniran para longos passeios pelas redondezas, para observar e extrair histórias para seus programas. Também foi Molles quem deu chance para o amigo e parceiro interpretar diversos tipos.

A parceria dos dois deu tão certo que, em 1946, a imprensa chamava Adoniran de "o milionário criador de tipos" e, Molles, "o milionário criador de programas". Nesse ano, Adoniran fazia nada menos do que dezesseis interpretações diferentes.

Na TV Record, produziu Gente que fala sozinho e outros sucessos, tendo sido agraciado, por onze anos consecutivos, com o Prêmio Roquete Pinto, além dos Prêmios Tupiniquim (4 vezes), Paulo Machado de Carvalho (melhor programador de 1959) , tendo sido condecorado com a Medalha de Ouro do Mérito Radiofônico. Com o roteiro do filme Simão, o caolho, obteve o Prêmio Governador do Estado de São Paulo e o Prêmio Saci.

Poeta, contista e romancista, conquistou o Prêmio Castro Alves e o Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, tendo suas crônicas publicadas nos jornais paulistanos O Tempo, Folha de São Paulo e Diário da Noite e na revista Manchete. Alguns críticos diziam ser ele o sucessor, na literatura paulista, de Antônio de Alcântara Machado.

Fontes: MPB Compositores - Adoniran Barbosa - Editora Globo; Piquenique Classe C - Boa Leitura Editora – São Paulo, sem data, pág. 345; http://www.releituras.com/omolles_natal.asp.

Ernâni Alvarenga

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Ernâni Alvarenga, compositor, instrumentista e cantor, nasceu em São Paulo SP (10/06/1914) e faleceu no Rio de Janeiro RJ (01/01/1992). Nascido no bairro da Barra Funda, aos quatro anos de idade mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde fez o curso primário.

Aprendeu a tocar cavaquinho e em 1927 participava de um regional, começando a compor no ano seguinte. Durante o Carnaval, convidado pelo sambista Paulo da Portela, que desfilava pelo bloco Vai Como Pode, passou a participar, juntamente com seu Bloco da Rua D, da escola de samba que estava sendo organizada e que em 1935 se tornaria conhecida como G. R. E. S. da Portela.

Em 1931 o Vai Como Pode desfilou na Praça Onze, cantando Dinheiro não há, samba de sua autoria, que mais tarde, com uma segunda parte composta por Benedito Lacerda, foi gravado por Leonel Faria. Sambista da velha guarda da Portela, atuou na escola compondo e tocando cavaquinho de quatro e cinco cordas, instrumento no qual se aperfeiçoou com a ajuda de Luperce Miranda.

Em 1937, a convite de Paulo Leblon, diretor da Rádio América, de São Paulo, afastou-se da escola para apresentar-se como cantor no programa Big Show América. Depois de passar alguns anos em São Paulo, voltou ao Rio de Janeiro para trabalhar na Rádio Mayrink Veiga e a seguir na Rádio Guanabara. Doente das cordas vocais, deixou a vida artística por alguns anos, reaparecendo no início da década de 1970.

Morador do subúrbio carioca de Osvaldo Cruz, foi um dos últimos remanescentes do grupo de fundadores da Portela. Freqüentava esporadicamente os ensaios e rodas de samba promovidos pela escola. Dois de seus sambas, Salário mínimo e Dinheiro não há, foram regravados por Beth Carvalho.

Obras

Aumento de salário (c/Paquito), 1932; Cheques a granel (c/Paquito), 1932; Dinheiro não há (c/Benedito Lacerda), 1932; Seu Aristeu (c/Paquito), 1932.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha.

O nascimento da Orquestração Brasileira

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Antes de Pixinguinha, o samba das orquestras tinha som de maxixe e os arranjos eram da escola italiana. Com ele, o colorido sonoro ganhou tons verde-amarelos, criando a maneira brasileira de se fazer ouvir.

Ary Barroso foi um dos primeiros a protestar contra a forma como os sambas e outros ritmos brasileiros estavam sendo gravados, nos momentos da expansão da indústria fonográfica no Brasil. Não que tivesse algo de pessoal contra os maestros e instrumentistas estrangeiros encarregados de executar nossas músicas, mas bastava simplesmente ouvi-los para sentir a falta de sotaque brasileiro.

Os arranjos obedeciam à escola italiana, os músicos tocavam como nos velhos tempos dos maxixes, não se observava a presença de ritmistas nas orquestras, faltando molho e sabor nacionais às gravações.

A solução veio com um gênio negro, nascido no Rio de Janeiro, em 1898, e que, aos 12 anos, já era considerado o maior flautista da cidade. No futuro, viria a sê-lo também do Brasil e, em termos de música popular, talvez do mundo. Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha, que já tivera a grande experiência internacional liderando Os Oito Batutas em Paris, era nome conhecido e respeitado como músico e líder, quando sua carreira de arranjador, uma guinada em seu destino e no da música popular brasileira, aconteceu.

A primeira vez que formou uma orquestra, ou algo parecido, foi na Exposição do Centenário da Independência do Brasil, em 1922, no Rio de Janeiro. Como ele mesmo contava: “A Rádio Sociedade tinha um estúdio na Exposição.Tinha aqueles alto-falantes e fui irradiar da Exposição. Eu e Zaíra de Oliveira, grande cantora e que veio a ser posteriormente esposa do Donga (...) toquei em uma exposição da General Motors, da qual participou também Villa-Lobos. Eu organizei uma orquestra popular, com instrumentos de orquestra”.

Sérgio Cabral, na biografia de Pixinguinha, aclara: “O compositor e pianista Eduardo Souto, encarregado de convidar os artistas e as orquestras que iriam apresentar-se diariamente, pediu a Pixinguinha para organizar uma orquestra, tarefa cumprida com a participação de todos os batutas e mais o reforço de Bonfiglio de Oliveira e da cantora Zaíra de Oliveira. (...) Durante toda a exposição, Pixinguinha e sua orquestra tocaram diariamente no pavilhão da General Motors”.

Nascia o primeiro maestro brasileiro a tocar música com o nosso sotaque. A primeira escola de arranjos para Pixinguinha foi o teatro de revista. Foi em composições suas e alheias que o maestro burilou o estilo e iniciou o trabalho de criação de uma forma brasileira de execução orquestral. Seu jeito de levar para a pauta a parte de cada instrumento, no todo de um arranjo, foi ganhando forma na soma de trabalhar muitos ritmos e maneiras de fazer música. Ele próprio, compondo para revistas, fazia músicas japonesas, americanas, argentinas, francesas e por aí afora.

Em 1928, logo após a implantação da gravação elétrica no Brasil, Pixinguinha pôde usar a gravadora Odeon como laboratório para seus experimentos orquestrais. Gravou como nunca, músicas dele e de outros compositores. Apresentava-se como Pixinguinha e Conjunto, Orquestra Típica Pixinguinha, Orquestra Típica Pixinguinha-Donga e Orquestra Típica Oito Batutas.

Em maio de 1928, em companhia de Donga, forma uma orquestra de caráter inteiramente brasileiro. Criada para tocar na II Exposição de Automobilismo, Autopropulsão e Estradas de Rodagem do Rio de Janeiro, dos 40 músicos, 34 eram instrumentistas de cordas e ritmo, visto que Pixinguinha e Donga objetivavam, com essa orquestra “típica”, fazer frente às jazz bands e às típicas argentinas, febre musical da época.

A consolidação como maestro e arranjador viria em 1929, quando a gravadora Victor contratou Pixinguinha como seu orquestrador de discos e maestro da Orquestra Victor Brasileira. Em, no mínimo, seis gravações por ano, apareceria como solista de flauta, completando suas funções.

Sérgio Cabral destaca a partir daí a importância dessa orquestra para o panorama da música brasileira de então, já que finalmente se passou a tocar música brasileira de um jeito brasileiro, incluindo aí o samba provindo do Estácio. As orquestrações de Pixinguinha podiam ser reconhecidas de imediato.

As introduções que criava, compondo sobre temas alheios, deram tom definitivo ao arranjo nacional. A de O teu cabelo não nega chega a ser tão lembrada quanto a própria música. Sem nunca ter parado de estudar e trabalhar, Pixinguinha é uma referência até hoje para os maestros brasileiros, como continuará sendo amanhã.

Fonte: História do Samba - Editora Globo.

Artur Azevedo

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O contista, poeta, teatrólogo e jornalista Artur Azevedo (Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo) nascido em São Luís (MA), em sete de julho de 1855, é considerado o pai do teatro musicado brasileiro. Filho de David Gonçalves de Azevedo e Emília Amália Pinto de Magalhães, aos oito anos demonstrou gosto para o teatro e fez adaptações de textos de autores como Joaquim Manuel de Macedo.

Muito cedo começou a trabalhar no comércio. Foi empregado na administração provincial e logo após foi demitido por publicar sátiras contra autoridades do governo. Ao mesmo tempo lançou as primeiras comédias nos teatros de São Luís (MA).
Antes de completar seus 20 anos foi para o Rio de Janeiro (1873) empregando-se no Ministério da Agricultura e também ensinando português no Colégio Pinheiro.

Mas foi no jornalismo que se desenvolveu em atividades que o projetaram como um dos maiores contistas e teatrólogos brasileiros. Fundou publicações literárias, como A Gazetinha, Vida Moderna e O Álbum. Colaborou em A Estação, ao lado de Machado de Assis, e no jornal Novidades, junto com Olavo Bilac, Coelho Neto, entre outros.

O BilontraNessa época escreveu as peças dramáticas como a opereta francesa La Filie de Madame Angot; fez a paródia A filha de Madame Angu (1876), que chamou as atenções gerais e criou as oportunidades para o começo de sua carreira teatral; O Liberato e A Família Salazar, que sofreu censura imperial e foi publicada mais tarde em volume, com o título de O escravocrata. Escreveu mais de quatro mil artigos sobre eventos artísticos, principalmente sobre teatro (figura ao lado: chamada para peça "O Bilontra": O Mequetrefe - Rio de Janeiro - 1885).

Suas operetas e revistas introduziram no Brasil o teatro musicado, sendo pioneira O Mandarim(1884), seguindo-se Cocota (1885) e O Bilontra (1886). Os textos críticos e bem-humorados sempre eram aplaudidos, mesmo pelos criticados. Um século depois, continuam a ser encenados, como A Capital Federal, escrita em 1897.

Em 1889, reuniu um volume de contos dedicado a Machado de Assis, seu companheiro na Secretaria da Viação. Em 1894, publicou o segundo livro de histórias curtas, Contos fora de moda, e mais dois volumes, Contos cariocas e Vida alheia. Morreu no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1908.

Fontes: Artur Azevedo - Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa; História do Samba – Editora Globo; “O Bilontra” - Imagens – 1885 pelos jornais.

A Ala das Baianas

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Nem Dante Alighieri, nas mais profundas divagações sobre o Inferno, imaginaria uma ala de baianas desfilando na sua Divina Comédia. Mas, para a grande magia do Carnaval, nada é impossível e nos primórdios das escolas de samba, a primeira delas, a Deixa Falar, desfilava com o enredo O Inferno de Dante.

Como o fundador da Escola, Ismael Silva, exigia a presença de baianas, o jeito foi incluí-las — de saias rodadas, turbantes. pulseiras e colares — entre caldeirões, tridentes e diabos na versão carioca da obra do autor italiano.

A importância da Ala das Baianas nas escolas de samba pode ser medida de imediato pelo valor da nota que lhes é atribuída nos desfiles. Com no máximo trinta componentes, tem o mesmo peso da bateria, que muitas vezes tem mais de quatrocentos integrantes. Carregada de simbologia, a ala representa o elo histórico entre o samba e as antigas baianas.

Desde o primeiro momento, no Rio de Janeiro, quando chegou pelas mãos dos migrantes baianos, o samba foi acalentado nos casarões das velhas “tias”, que preservaram os costumes culinários, musicais e visuais (no que diz respeito aos trajes) trazidos junto com suas mudanças.

O desenhista francês Debret, impressionado com as batas, as saias presas na cintura e que não passavam do meio da canela, ornadas com rendas; os colares de ouro ou coral; as pulseiras e os berloques de prata; as pequenas chinelas que mal abrigavam os dedos, deixando livres os calcanhares, fixou as baianas muitas vezes nas telas em que retratou o Brasil.

Edison Carneiro, em seus estudos folcioristas, conta que o aparecimento das baianas em trajes típicos remonta aos grupos africanos que foram traficados para o Brasil. Segundo ele, o turbante é muçulmano, os panos-da-costa e as saias rodadas, sudanesas, e os colares é figas-de-guiné, o toque final ao conjunto. Tais aspectos dão referências históricas à figura da baiana.

A ala tem a função de aludir, portanto, às origens afro-baianas do samba, elo tradicional que ainda mantém as escolas de samba unidas a seu cordão umbilical, mesmo com toda a pompa e circunstância que cercam hoje seus luxuosos desfiles.

Não foi sem motivo que Ismael Silva exigiu uma ala de baianas, logo no primeiro desfile de sua Escola de Samba Deixa Falar. A exigência foi cumprida, transformando-se em tradição e parte intocável do regulamento dos desfiles das escolas até hoje. Certamente uma homenagem às “tias” baianas, pioneiras e protetoras do samba nos seus primórdios.

A tradição viva: obrigatórias por regulamento, as baianas
mantêm em sua ala as origens culturais do samba.

Fonte: História do Samba - Editora Globo.